segunda-feira, 23 de julho de 2012

Tó Zé - o Merceeiro.

Todos sabiam. O Tó Zé "Merceeiro" dava valentes sovas na mulher. Distribuía o seu "amor" à paulada. E, uma vez, usou a carrinha. Ele não era bonito, mas era simpático para a freguesia. Certo dia, a mulher contraiu o divórcio mesmo sem receita do médico. Dizem que se enrolou com o pároco. Tó Zé - o merceeiro - virou, na comunidade, de besta a coitadinho. Um ano depois pendurou-se pelo pescoço com uma corda ao estendal da roupa e ficou metamorfoseado em pêndulo. Nesse dia, do lado oposto da rua, o Café Central encheu. Todos o testemunharam: a corda matou-o!

Mas o estranho veio depois. Morto, a vizinhança não se permitia a lembrar o talento com que Tó Zé "Merceeiro" transformou com a carrinha a mulher em um projéctil. Já só se podiam lembrar que o merceeiro vendia mais barato. Era um bom homem - repetiam. O divórcio matou-o - escreveram no jornal da freguesia.

No funeral de Tó Zé apareceram os amigos dos copos, as beatas que não conseguiram a atenção desejada do pároco, a ex-mulher para espanto de muitos, e um desconhecido. Por impertinência de quem se julga importante, o desconhecido quis dizer umas palavras de homenagem, subiu a um escadote e disse que o defunto foi "uma personalidade que teve um percurso cívico extraordinário" e é "uma perda muito grande para Portugal". Bateram palmas!, excepto a ex-mulher. Mentira! -  gritou ela -, acrescentou que o desconhecido não conhecia sequer o morto, que se teria enganado, e ido mentir para o funeral errado. Os outros censuravam-na, alegando que assim desrespeitava o morto.

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Cultura

A ideia de que a «cultura» é coisa para letrados, ricos e urbanos diletantes entra, provavelmente, no rol das piores imbecilidades. Cultura é tudo o que nos toca, promove, organiza e perpetua. As histórias contadas ao serão e partilhadas em momentos familiares são cultura. Os episódios de intriga de aldeia que nos ensinam, espicaçam a curiosidade e relembram (e revivem) os que já se foram, é um factor de enriquecimento e de cultura. A memória é cultura. Há formas organizadas de gerir a cultura – desde os museus às exposições – mas a verdadeira aquisição de cultural não se faz nas reuniões alcatifadas da sociedade ou nas salas de concerto da capital. Faz-se no dia-a-dia. Música é cultura. Teatro é cultura. Obras de artesãos são cultura. Escritos são cultura. Tradição é cultura.» 

Mário Cordeiro, Pediatra.

domingo, 15 de julho de 2012

Meia-luz



E foi com esta que me rendi a esta banda... Uma fina textura de som perfeita para apreciar a beleza obscurecida entre as cores pardas de uma longa noite. Sim, és... também à meia-luz.

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Fulanização da Política

Fulanização - acto de identificar uma pessoa, mas cuja identificação não interessa, ou não é fundamental, para a questão.

É um erro comum e promovido nos assuntos políticos. Resulta na ilusão de se pensar que as políticas são consequência de um indivíduo, e não de uma estrutura e dinâmica social concreta.

Mesmo sem Relvas, a desgraça continuará. Tal como sem Sócrates, mesmo sem Coelho, a desgraça continuará. Assim será, enquanto a dinâmica social que promove tais políticas e (seus) indivíduos não mudar. Em suma, o que é preciso mudar mesmo são as políticas. As políticas! Essa é que é a questão: as políticas.

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Sobre a União Soviética (URSS)

Isto é sobre a União Soviética (URSS). Tendo em conta a nossa situação política e social actual, são dados um tanto perturbadores! Aqui vai:
  • A União Soviética foi o primeiro país do mundo a instaurar a jornada de trabalho de 8 horas (a partir de 1956 foram implementados os dias de trabalho de 7 horas e de 6 horas, bem como a semana de cinco dias).
  • O primeiro a assegurar o direito do homem a um trabalho permanente e fixo.
  • O primeiro a liquidar o desemprego (1930) e a assegurar o pleno emprego
  • O primeiro a estabelecer um ensino gratuito.
  • O primeiro a fornecer cuidados de saúde gratuitos e a assistência social
  • O primeiro país do mundo a construir uma habitação de baixo preço e a garantir os direitos políticos e sociais fundamentais para a maioria da população.*
* retirado deste artigo de António Vilarigues no Avante!.

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Sr. Mike Gramas - o Gangster

Chama-se Relvas, mas se não fosse ele seria o Sr. Gramas. Fulanizar não é a prática mais assertiva. O mais importante não é compreender que ele é um gangster, mas antes, o que faz com que somente vigaristas ou suas marionetas subam ao poder executivo do Estado; e também, como mudar essa situação.

E então como se muda? Como garantir que a coisa pública está em boas mãos?
Penso que a resposta a isso está na chamada pressão social.

Pode não parecer, mas relacionado com isso está este trecho*:
Em que momento um indivíduo se transforma em cidadão? Quando a sua personalidade estabelece relações com a política, e na política actua, a transforma e a molda segundo as urgências e as necessidades da comunidade.
Como diz um amigo meu em relação a um péssimo jogador que passou pelo Benfica:
- A culpa não é do jogador, mas do treinador que é quem o põe a jogar.

* retirado do artigo de hoje de Baptista-Bastos no DN.

terça-feira, 3 de julho de 2012

O rapaz que quer vir a ser mineiro

O rapaz que quer vir a ser mineiro.
Novembro de 1939.


Dizia na época a legenda da fotografia:
O seu pai e seu avô eram mineiros. É sua ambição vir a ser um mineiro, também. Ele não lê as estatísticas do desemprego do Ministério do Trabalho. Ele não sabe quantas minas foram fechadas. Ele nem sabe sequer que, das 19 casas na Greenhough Row, onde ele vive, às vezes, somente quatro famílias têm trabalho.
(fonte)